Engana-se quem pensa que um deficiente
visual não pode usar o computador ou mexer em uma tela touchscreen,
sensível ao toque. Pelo contrário, a tecnologia facilita a essas pessoas
escreverem, lerem livros e até assistirem a filmes. Atualmente,
diversos softwares — conhecidos como leitores de tela — transformam em
áudio todo o conteúdo escrito na tela.
O professor de retórica Victor Caparica,
de 30 anos, que perdeu a visão aos 22 anos em um acidente, faz uso
dessas tecnologias. Ele considera o iPhone como uma espécie de
“renascença para os cegos”. “A quantidade de acessibilidade que ele
trouxe ajudou muito a gente. Para o deficiente visual, existem diversas
opções”, conta. A habilidade com o teclado adquirida antes de perder a
visão facilitou sua adaptação e, sendo fã de tecnologia, ele rapidamente
se acostumou aos leitores de tela e hoje consegue montar slides,
estudar, escrever, ler livros, assistir a filmes e, claro, participar
das redes sociais.
“Existem diversos aplicativos feitos
para os cegos e, hoje em dia, é muito mais fácil para nós usarmos a
internet”, explica. Os leitores de tela leem todo o conteúdo escrito na
página e os comandos são usados somente pelo teclado, excluindo por
definitivo o mouse. Cada voz é diferente e a velocidade é regulável.
“Depois que a pessoa se habitua, ela vai entendendo cada vez mais rápido
o som e pode ir deixando a voz mais rápida. Uma hora, a gente se irrita
e vai aumentando a velocidade para facilitar”, ressalta.
Mesmo na tela touchscreen, Caparica
consegue saber onde os ícones estão. “A gente consegue visualizar o
ambiente dentro da nossa cabeça e temos noção de espaço. Na internet não
é diferente, eu crio um espaço virtual na minha mente e consigo navegar
só pelo comando de voz normalmente”, confirma.
Sites sem acessibilidade
Apesar das inovações, ainda existem
alguns problemas. Nem todos os sites são facilmente ‘traduzidos’ para o
áudio, devido ao grande de número de imagens e também outros plug-ins
que não podem ser lidos. Como, por exemplo, a confirmação de identidade,
onde o internauta deve digitar os caracteres que aparecem na tela.
“Apesar de existir a opção de você ouvir as letras para depois digitar, o
sistema não funciona e não é usual, sou obrigado a mudar de site ou
pedir ajuda de alguém”, diz Victor Caparica.
Empresa que mais evoluiu foi Apple
Os leitores de tela são compatíveis com
diversas plataformas. No caso do Linux, o leitor é o Orca e vem
integrado ao sistema. No Windows, existem opções variadas, porém, a
maioria delas é paga. Um exemplo de leitor gratuito é o NVDA (NonVisual
Desktop Access ou Acesso Não Visual ao Ambiente de Trabalho). A empresa
que mais evoluiu na tecnologia assistiva é a Apple, com o sistema
VoiceOver integrado, seja nos IOS (celulares, tablets e tocador de
música) ou no Mac OS.
Livros, filmes, jogos e redes sociais
Para ler livros,
Caparica baixa e-books em extensões .pdf ou .doc, do Word, e o leitor de
telas lê o livro. “Eu deito e fico ouvindo sossegado, coloco a voz em
uma velocidade rápida e consigo ler de cem a 200 páginas por dia”,
explica. E para assistir a filmes, é até mais simples, tanto no notebook
quanto no cinema.
“Só pelas falas e o som ambiente, a
gente consegue entender o filme, com exceções das cenas de clipes, ou
seja, eles tiram o som ambiente e colocam uma música, aí a gente precisa
que alguém nos explique ou que tenha a audiolegenda adequada”, explica.
E quando o filme é legendado, apesar de
ser fluente em inglês, ele tem a opção de colocar o leitor de telas, que
lê as legendas. Caparica é fã do Twitter e usa a versão mobile e também
no computador, com o Qwitter Blind Accessibility, que lê os tweets para
ele. “Mesmo se eu voltasse a enxergar, eu continuaria usando esse
aplicativo, ele é fantástico”, brinca ele.
O Qwitter não cria nenhuma página na
tela, então, o internauta pode navegar e simplesmente usar os comandos
do teclado para twittar, ler a timeline e até checar as mensagens.
“Depois de um tempo, a gente aprende a identificar somente pelo áudio”,
completa.
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